ABC DA DISCUSSÃO: INCOERÊNCIA, INCOERÊNCIA, É TUDO INCOERÊNCIA

terça-feira, setembro 29, 2015 , , 5 Comments


a) Discussão é embate, encontro, problematização de ideias. Não está em jogo a vida pessoal da minha companheira e afins. 

b) Usar classificações como “feminazi”, “machista”, “opressor”, “capitalista”, “preto”, “branco” [...] para vencer seu oponente só mostra quão despreparado(a) você está. Se "vence" a discussão com argumentos e não com chavões, modinhas, etc., que ao demonizar infantilmente seu opositor, te outorgam uma áurea de santidade e não uma veracidade de argumentações. 

c) Quando for desconstruir, pense em possibilidades de construir algo, mostrar possibilidades. Até o mais desinstruído pode criticar algo, porém mostrar possibilidades lógicas e relevantes é coisa para poucos. 

d) Procure ser o mais claro possível. A maioria das pessoas não leram o que você leu, não ouviram o que você ouviu, não viveram o que você viveu. Mas vale ser compreendido(a) na simplicidade, do que ser admirado(a) na incompreensão. 

e) Liberdade de expressão não é liberdade para ofender outrem, não é ofendendo, xingando, desrespeitando que vencerás a discussão. Isso mostra quão mal caráter és. 

f) Se você não é obrigado a concordar com todo mundo, também ninguém o é com você. Se você vê como problema a vida das focas no polo norte, eu posso (dentro dos padrões de comparação simétricos), não achar isso um problema relevante, ponto. Discussão é uma regra na realidade nas relações humanas. 

        Discutimos porque vivemos em comunidade e temos histórias diferentes, percursos diferentes. Neste sentido, os embates de ideias, a divergência e o desentendimento não são elementos nocivos às relações humanas, são elementos que mostram a existência de uma autonomia de ser e de estar. Nesse quesito, vale destacar então que a discussão visa o afinamento de posições e o consenso ou não, dos contrários. 

A face desnecessária da discussão é aquela arrogante e orgulhosa, onde por um lado a pessoa pensa tudo saber sobre as verdades últimas da quinquagésima estrela na órbita de marte, não admitindo ser contrariado(a) e por outra, aquela distorção no caráter caraterística daquele que não consegue ceder sua posição e assumir seus equívocos mesmo quando seu oponente possui todas as provas, os argumentos que corretamente contrariam sua posição. 

Diante da facilidade de escrever e se proteger atrás de um Smartphone, de um notebook, e por que não dizer atrás de uma caneta, vemos pessoas reclamando por liberdade de expressão, alegando que “uma charge, não mata ninguém”; que “é tempo de desconstrução” e “mudança de paradigmas”. Apenas a título de exemplo, cito o ocorrido na França, os assassinatos na redação da revista Charlie Hebdo. Bem, de modo nenhum a chacina é defendida ou justificável, porém, não se pode negar as constantes e desnecessárias provocações saídas da referida agência contra Maomé, principal referência da religião Muçulmana. As provocações vinham em tom de deboche à religião muçulmana, caraterístico de uma das maiores violências que os ditos “críticos” não se percebem (ou percebem e o fazem malevolamente): a violência simbólica. Essa imposição do discurso neo ateísta que não apenas declara a insuficiência de alguma prova que ateste a existência de Deus (como o faz e com todo direito o ateísmo), mas persegue, ridiculariza, martiriza e reprime as variadas expressões do universo que vai além do sensitivo, está tão culturalmente estabelecida, que atestar essa postura arrogante perante o que não se sabe sobre religião tornou-se selo de inteligência na maioria dos espaços acadêmicos, rodas de conversa, mídias, editoriais de modo geral. Ora, todos os segmentos sociais podem e devem ser questionados, problematizados, mas o extremismo é cabalmente caraterístico deste tipo de discurso arrogante e estou muito mais interessado em construir possibilidades do que apenas desconstruir. 

Ilustrações publicadas na revista - Charlie Hebdo. Foto: retirada da internet no dia 30/09/2015
A discussão visa aprimorar posições e não demonizar pessoas como temos visto em nossa sociedade. Estes pontos assinalados no início deste texto, são linhas gerais e básicas de qualquer discussão, independente do assunto, desde políticas públicas à relações interpessoais. É preciso compreender que discutir faz bem, mas faz bem quando as pessoas envolvidas sabem a diferença entre sustentar uma posição e demonstrar fidelidade ideológica, mesmo quando não se tem alguma coisa para defender. 

Nossa era é cada vez mais tomada por pessoas que não leem verdadeiramente sobre o que dizem, não tem experiência com o que asseguram conhecer, não ouvem os outros, não assumem seus erros, neuróticos para encaixotar os outros em caixas, desconstrutores de opiniões que eles não entendem, fundamentalistas que só enxergam fundamentalismo e fazem comparações além de anacrônicas, totalmente assimétricas. E são estas pessoas que se tornam conhecidas, são essas pessoas que mais gritam, e são estas, que no seu grito oprimido – quer no revestimento de religiosos ou não, machistas ou não, feministas ou não, comunistas ou não[...], acabam abafando as vozes, de quem não precisa esticar as cordas vocais, não precisa de altos cargos, e não precisa de reconhecimento e poder, para fazer o certo, zelando pela vida em comunidade, a vida na pólis; e é exatamente esse estado de coisas, que me faz concluir que incoerência, incoerência, é tudo questão de incoerência!!!

Autor: Alberto Melquizedek Samucuta

Grupo de jovens nerds (estudantes de psicologia e teologia) apaixonados por cinema café e literatura. No blog você ira encontrar muitos artigos sobre temas variados, poemas, dicas de filmes, livros e muita filosofia. Esperamos que o conteudo do blog lhe ajude.

5 comentários:

  1. Também sou estudante de psicologia e a filosofia me constitui. Concordo com tudo que você trás sobre discussão. No meu ponto de vista, não as crio e nem gosto de entrar nelas. Pouco se ouve sobre mim, mas mesmo assim me manifesto. na filosofia não há apenas um ganhador de discussão, está todo mundo certo, só manifestando pontos de vista diferentes, por isso apenas me manifesto quando sou solicitado.
    Muitas vezes trocamos ideias e você me conhece desta forma, esse tema opressor de liberdade de expressão que você trás é muito verdadeiro, acabamos perdendo a noção de liberdade, e não conseguimos enxergar que "a nossa liberdade termina onde começa a dos outros”.
    Chamar uma pessoa de "mais um falador" sem a conhecer é ser muito chinelo.
    Por isso limito-me a ouvir muito mais do que falar, por mais sofrido que isso possa vir a ser.
    Como consequência, hoje não preciso mais alimentar meu ego pelo facebook.
    E com esse meu comentário não quero competir com seu enorme e lindo texto, apenas estou me manifestando junto e não contra.
    Um abraço meu caro amigo.

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    1. @educaçaoonline, fico feliz que o texto tenha instigado. Concordo com você ao dizer quão raso é julgar alguém sem o conhecer, e sim, depois de um investimento no autoconhecimento, no melhoramento de si, não precisamos de ser validados nas redes sociais! O @culturaecafe surgiu como resposta a indignação que tínhamos em nossa formação. Decidimos "salvar" a nós mesmos, a sair da dependência institucional e começar a pensar, juntamente com quem quiser.
      Além do SITE, temos também um encontro semanal de filosofia, aberto ao público e assim, vamos criando a "mudança que queremos em nosso contexto".
      Sem mais,
      Abraço!!!

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  2. Adoro seus textos (e não é bajulação você sabe). Espero poder contribuir com algumas reflexões e apreciações.
    Amei a proposta do blog, desejo tudo de bom e sucessos and, we are here!
    Miguel Satyambula.

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    1. Caro @miguel satyambula, é sempre uma honra receber suas contribuições!! Obrigado pelo incentivo.
      Abraço.

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  3. Este é o ABC, que disconfigura as nossas incoerencias diante de qualquer debate e como foi bem dito por voçes abaixo:







    Nossa era é cada vez mais tomada por pessoas que não leem verdadeiramente sobre o que dizem, não tem experiência com o que asseguram conhecer, não ouvem os outros, não assumem seus erros, neuróticos para encaixotar os outros em caixas, desconstrutores de opiniões que eles não entendem, fundamentalistas que só enxergam fundamentalismo e fazem comparações além de anacrônicas, totalmente assimétricas. E são estas pessoas que se tornam conhecidas, são essas pessoas que mais gritam, e são estas, que no seu grito oprimido – quer no revestimento de religiosos ou não, machistas ou não, feministas ou não, comunistas ou não[...], acabam abafando as vozes, de quem não precisa esticar as cordas vocais, não precisa de altos cargos, e não precisa de reconhecimento e poder, para fazer o certo, zelando pela vida em comunidade, a vida na pólis; e é exatamente esse estado de coisas, que me faz concluir que incoerência, incoerência, é tudo questão de incoerência!!!

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