a) Discussão é embate, encontro, problematização de ideias. Não está em jogo a vida pessoal da minha companheira e afins.
b) Usar classificações como “feminazi”, “machista”, “opressor”, “capitalista”, “preto”, “branco” [...] para vencer seu oponente só mostra quão despreparado(a) você está. Se "vence" a discussão com argumentos e não com chavões, modinhas, etc., que ao demonizar infantilmente seu opositor, te outorgam uma áurea de santidade e não uma veracidade de argumentações.
c) Quando for desconstruir, pense em possibilidades de construir algo, mostrar possibilidades. Até o mais desinstruído pode criticar algo, porém mostrar possibilidades lógicas e relevantes é coisa para poucos.
d) Procure ser o mais claro possível. A maioria das pessoas não leram o que você leu, não ouviram o que você ouviu, não viveram o que você viveu. Mas vale ser compreendido(a) na simplicidade, do que ser admirado(a) na incompreensão.
e) Liberdade de expressão não é liberdade para ofender outrem, não é ofendendo, xingando, desrespeitando que vencerás a discussão. Isso mostra quão mal caráter és.
f) Se você não é obrigado a concordar com todo mundo, também ninguém o é com você. Se você vê como problema a vida das focas no polo norte, eu posso (dentro dos padrões de comparação simétricos), não achar isso um problema relevante, ponto.
Discussão é uma regra na realidade nas relações humanas.
Discutimos porque vivemos em comunidade e temos histórias diferentes, percursos diferentes. Neste sentido, os embates de ideias, a divergência e o desentendimento não são elementos nocivos às relações humanas, são elementos que mostram a existência de uma autonomia de ser e de estar. Nesse quesito, vale destacar então que a discussão visa o afinamento de posições e o consenso ou não, dos contrários.
A face desnecessária da discussão é aquela arrogante e orgulhosa, onde por um lado a pessoa pensa tudo saber sobre as verdades últimas da quinquagésima estrela na órbita de marte, não admitindo ser contrariado(a) e por outra, aquela distorção no caráter caraterística daquele que não consegue ceder sua posição e assumir seus equívocos mesmo quando seu oponente possui todas as provas, os argumentos que corretamente contrariam sua posição.
Diante da facilidade de escrever e se proteger atrás de um Smartphone, de um notebook, e por que não dizer atrás de uma caneta, vemos pessoas reclamando por liberdade de expressão, alegando que “uma charge, não mata ninguém”; que “é tempo de desconstrução” e “mudança de paradigmas”. Apenas a título de exemplo, cito o ocorrido na França, os assassinatos na redação da revista Charlie Hebdo. Bem, de modo nenhum a chacina é defendida ou justificável, porém, não se pode negar as constantes e desnecessárias provocações saídas da referida agência contra Maomé, principal referência da religião Muçulmana. As provocações vinham em tom de deboche à religião muçulmana, caraterístico de uma das maiores violências que os ditos “críticos” não se percebem (ou percebem e o fazem malevolamente): a violência simbólica. Essa imposição do discurso neo ateísta que não apenas declara a insuficiência de alguma prova que ateste a existência de Deus (como o faz e com todo direito o ateísmo), mas persegue, ridiculariza, martiriza e reprime as variadas expressões do universo que vai além do sensitivo, está tão culturalmente estabelecida, que atestar essa postura arrogante perante o que não se sabe sobre religião tornou-se selo de inteligência na maioria dos espaços acadêmicos, rodas de conversa, mídias, editoriais de modo geral. Ora, todos os segmentos sociais podem e devem ser questionados, problematizados, mas o extremismo é cabalmente caraterístico deste tipo de discurso arrogante e estou muito mais interessado em construir possibilidades do que apenas desconstruir.
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Ilustrações publicadas na revista - Charlie Hebdo. Foto: retirada da internet no dia 30/09/2015 |
A discussão visa aprimorar posições e não demonizar pessoas como temos visto em nossa sociedade. Estes pontos assinalados no início deste texto, são linhas gerais e básicas de qualquer discussão, independente do assunto, desde políticas públicas à relações interpessoais. É preciso compreender que discutir faz bem, mas faz bem quando as pessoas envolvidas sabem a diferença entre sustentar uma posição e demonstrar fidelidade ideológica, mesmo quando não se tem alguma coisa para defender.
Nossa era é cada vez mais tomada por pessoas que não leem verdadeiramente sobre o que dizem, não tem experiência com o que asseguram conhecer, não ouvem os outros, não assumem seus erros, neuróticos para encaixotar os outros em caixas, desconstrutores de opiniões que eles não entendem, fundamentalistas que só enxergam fundamentalismo e fazem comparações além de anacrônicas, totalmente assimétricas. E são estas pessoas que se tornam conhecidas, são essas pessoas que mais gritam, e são estas, que no seu grito oprimido – quer no revestimento de religiosos ou não, machistas ou não, feministas ou não, comunistas ou não[...], acabam abafando as vozes, de quem não precisa esticar as cordas vocais, não precisa de altos cargos, e não precisa de reconhecimento e poder, para fazer o certo, zelando pela vida em comunidade, a vida na pólis; e é exatamente esse estado de coisas, que me faz concluir que incoerência, incoerência, é tudo questão de incoerência!!!
Autor: Alberto Melquizedek Samucuta